sábado, dezembro 05, 2009

Pela janela blindada de um cavalinho de pau.

É duro se vê sozinho em um ônibus tangenciado por chuva pós um mergulho em pensamentos em plano-seqüencia. Daí você se dá conta que se algo acontecesse ali seria cada um por si e Deus por quem acredita, né?! pois bem,... Foi por isso que Dennis resolveu por amarrar direito os sapatos e deixar as mãos livres daquele copo vazio de mate natural diet. E foi também por isso que Tereza preferiu sentar-se ao ficar de pé, repousar a bolsa sobre o colo molhado e fechar os olhos, enquanto era embalada pelo som de seu ipod. Mas não, eles não sentaram lado a lado, nem caiu a caneta dela no chão, nem se agacharam juntos, nem “quando a luz dos olhos seus e a luz dos olhos meus resolvem se encontrarrr”. Não, definitivamente na-da disso aconteceu.
Ele era alérgico a flores, viciado em remédio para rinite e pai desde bem jovem. Perdeu o grande amor em uma viagem para visitar a mãe doente em Curitiba. Prometeu voltar em três semanas mas demorou sete meses, e ela já estava de mala e cuia em seu novo apartamento no Grajaú, com o filho e um amigo colorido da faculdade. Depois disso até se aventurou em outros casos, alguns duraram, estava noivo agora, mas - na condição de sinédoque de noventa por cento da população que circula pela rotina combinatória - matava um leão por dia para driblar aquelas cicatrizes guardadas em processo de abertura constante.
Ela, adoradora da primavera, da combinação de bege com salmão, ascendente em câncer, estudante de pedagogia. O patriarca da casa desde que o pai morreu. Uma mãe aposentada, chantagista e perdulária. Uma irmã com síndrome de down. Namorou por um tempo um alcoólatra mais velho, amigo do pai. Sofreu com traições, mas ainda assim era melhor dessa forma do que ter que conviver com a atração intensa que sentia pela professora de teoria da educação. #marciagoldschmidtfacts
É o ponto de Dennis. É o ponto de Tereza. Ambos despertam diante do fluxo de pensamentos. Ambos levantam, juntos, e ele a alerta sobre o dinheiro que está prestes a cair de seu bolso e o casaco que arrasta pelo chão, sem sequer imaginar quaisquer das dores dela. Ela agradece, sem indagar em pensamentos se ele é feliz. E eles se esbarram em uma educação distante, mas sem qualquer vestígio de troca, como aqueles figurantes do cada cenário particular que se trançam com cada história sem querer. Um cada por todos e todos por cada um. E seguiu cada um para um canto próprio quase egoísta dentro de si. Cada por si, consigo, com seus. E Deus? ... Deus por aqueles que acreditam.

quarta-feira, novembro 25, 2009

Ouvi todos meus lamentos ao pé de meu próprio ouvido para chegar a conclusão de que não devo mais conservar distâncias. Não se vive só de ilusões e memórias confusas do mesmo modo que cantei mentalmente “além do que se vê” e as pessoas do metrô não bateram palmas juntas na hora do “toma o teu/ voa mais/ que a banda diz/ assim é que se faz.” Continuaram paradas dentro de si e de seu pedaço de dia. Eu também, só que sem rumo. Tudo de verdade me fazia questionar o pouco. Como pode? – um- peixe- vivo- viver- fora- de- água- fria. Viver de ônibus, pão e conversas sobre o clima é um saco. E pouco. Muito pouco. Mas ainda mais íntimo do que qualquer sonho meu.
Não será contada uma história passional; Um dia me disseram que isso acalma, é impulso, eu sei. Na medida em que esse desejo louco se desapegar um pouco e eu começar a ler outros trechos senão teu nome, você virá até mim. Manso, como tudo deve ser. É só seguir a desatenção dos teus passos diante de minhas distrações do que já foi convívio.
Teu signo é esquisito, não combina com o meu, mas algo nos atrai para uma mesma espécie de romance. Você vai ouvir meus trechos de carta de amor, confia. E poderei te sentar ao pé da cama para lhe contar de como fiz da nossa história passional...

...porque todo o dia tem um quê de 23.

Esfrego-me em minha própria cara um sofrimento cretino por uma paixãozinha borra-botas. Não chamaria de dor esse incomodo ciuminho que vem chegando a cada manifestação de felicidade tua além de mim. Seria injusto com o que já sofri. É uma cosquinha ruim, de certo, que até me faz rir enquanto juro para mim mesma que nunca mais passarei pela porta da tua casa por-nada. Sei que vou me trair. Pirraça de te ter por perto na hora do almoço, ou tão perto quanto um abraço de olhos, uma ousadia ou os últimos segundos de uma promessa qualquer de nunca mais. Por isso mesmo que até gosto um pouco de sentir esse ciúme nem-tão-ciúme-assim ( menos amarelo, mais abóbora), porque, é apenas dentro dele, só dele , que me sinto mais só dentro de você.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Dentro da sua noite

Devaneios, eu sei que são devaneios em medos de pressentimento. Calma, isso passa, pensa, acredita. Acredita, sim. Quero levantar ainda que permaneça de bruços sobre o breu. De um lado para o outro, o movimento só me traz mais calor, muito calor. Travesseiro baixo, planos longínquos. Em algum lugar de um passado de sons periódicos que parecem se intensificar com o tempo ainda que permaneçam na mesma freqüência. O tic-tac em uma noite de silêncio. Ainda faz calor, preciso ir a janela renovar o ar desse quarto de sempre, mas não quero levantar. Preciso dormir, meu corpo sente além do receio de pesadelos sinestésicos em vivência desses maus pensamentos. O sono descorda. Abro os olhos, fecho-os, pisco. Medo dessa sensação de cegueira em ausência de contraste claro-escuro. Visível-Invisível. Controle- Descontrole. Tenho medo do escuro. Penso em levantar, fazer algo útil, acender as luzes, mesmo que seja só um abajur, mas. Nada poderá ser resolvido agora, nada, eu sei, só preciso dormir. Eu tenho que dormir, mas é preciso de esvaziar para adormecer em paz. Começo a sentir um desconforto, viro o tronco, jogo as pernas para o outro lado, as costas estalam, viro a cabeça em direção a janela; o amanhecer. Começa a amanhecer, por fim. Pôr fim nisso. Quero levantar, mas vejo que seus traços começam as renascer junto com o s feixes de luz, ao meu lado, ali, no melhor lugar. Seguro, cheio de ar, cheio de luz, de olhos fechados para o mundo, abertos para si, no melhor lugar. Vejo sorrir em sonhos bonitos, desfrutando de sempre boa sincronia entre eles, todos. Vou perdendo aos poucos a vontade de levantar, vou relaxando, começo a ver graça no que compõe o lugar que me encontro e vou me sentindo mais segura ao fechar os olhos. Ali, sim, ali é o melhor lugar. E ao seu lado, deito e durmo.