“Era a história rimada de um amor infeliz. Falava-se nas raivas do ciúme, nas rochas de Cascais, nas noites de luar, nos suspiros da saudade (...)
(...)Vejo-o nas nuvens do céu
Nas ondas do mar sem fim
E por mais longes que esteja
Sinto-o sempre ao pé de mim.”
(Eça de Queiroz)
(...)Vejo-o nas nuvens do céu
Nas ondas do mar sem fim
E por mais longes que esteja
Sinto-o sempre ao pé de mim.”
(Eça de Queiroz)
HIV
Sempre fui de me encantar com imagens,me apaixonar por sorrisos e amar apenas por devoção às novelas.Com ela,porém,tudo foi diferente.Fui arquiteto dos 25 aos 27 anos, poeta desde menino e homem desde quando a conheci.Algumas vezes, acreditara que viver de forma morna e cotidiana era o padrão de felicidade,mas minhas peripécias íntimas me fizeram crer que viver uma vida sem oscilações e ousadias é,apenas, esperar o tempo passar.Tenho certo de que não tive um final feliz,mas isso não me magoa tanto quanto pensar que desisti de mim.
Nos final dos meus 25 anos resolvi sair de casa.Não queria ir para muito longe, tinha construído uma estrutura social e profissional em Ipanema e não seria fácil reconstruí-la.Queria uma reviravolta em minha vida,mas me contive em mudar apenas de quadra.Logo quando terminei a mudança, fui avisar aos meus amigos da praia que estava morando sozinho, já que tudo foi tão abrupto e não os via há um certo tempo.No caminho encontrei um homem desesperado,correndo,sem rumo, em direção ao mar.Embriagado de álcool,pensamentos obsessivos e rancor.Mal podia imaginar que aquele encontro seria um divisor de águas dentro de mim.
Consegui contê-lo. Seu pranto fazia das suas palavras incapazes de me explicar o motivo da sua tentativa de suicídio, mas uma foto e uma carta de mulher em sua mão esquerda davam mais sentido a história. Ele pegou em minha mão e encaminhou-me a casa dela que,por conchavo do destino com o acaso, era no mesmo prédio que o meu.Era a esperança daquele homem que eu o salvasse a alma da mesma forma que o salvei o corpo,mas não foi assim.
Passei o trajeto todo lendo aquela carta.Nunca havia lido nada nem semelhante.Era uma mulher tão peculiar e ao mesmo tempo tão tipicamente inteligente e sensível.Era de um eufemismo único e um jogo de cintura magnífico para lidar com a delicadeza da situação.Era a primeira vez que lia aquelas sentimentalidades.Era a primeira vez que apaixonava-me por palavras.Era a primeira vez que amava daquela forma.Platonicamente.Por dez minutos.
Quando a vi nada mudou.Linda.Encantadora.Mesmo que não fosse,já cheguei convencido que seria e,dificilmente aquela impressão iria mudar.Sentia nos olhos dela uma certa reciprocidade àquele estado de êxtase.Ficamos os três em silêncio.O homem nos condenava com sua atitude apática e com suas lágrimas que irrigavam sua fisionomia seca e pálida.Suas lágrimas acentuavam-se, paulatinamente, e a manifestação de sua loucura foi se agravando ao ponto de correr desesperado pela porta, sem dar explicações.Não tive forças para contê-lo.Não quis.
Apresentamos-nos. Encantamo-mos pelas afinidades. Namoramos. Em pouco tempo minhas malas subiram um andar.Estava em um estado de graça jamais experimentado por mim.Jamais ouvira alguém contar-me algo semelhante.Orgulhava-me de mim e sentia que,enfim,penetrava em uma existência superiormente interessante.Era um intimo contato com as mais variadas e excitantes sensações.
Estava tão feliz que tornei-me obcecado pelo desejo de permanência naquele estado.Meu medo de perdê-la condecorava meu ciúme,cada vez mais freqüente,cada vez mais egoísta,cada vez mais doentio.Até o dia em que ela me deixou, restando apenas uma carta em cima da cama para escutar meus lamentos.
Olhei-me no espelho,já não tinha mais graça.Ainda que eu quisesse voltar a minha vida anterior,já não poderia mais.Aqueles pensamentos me corroíam e a saudade mostrou sua face mais absurda.Fui atrás dela inúmeras vezes.Mal conseguia ver seu rosto.Premeditava o local que estaria para nos encontrarmos, quis modelar e construir o acaso,mas fui incompetente.Até que liguei e ela não atendeu.Soube pelo porteiro que estava com outro,saía toda noite,não tinha mais vícios nem atrasos.Percebi que tinha construído uma vida paralela a mim e estava feliz.Morri como homem e nasci como telespectador.
Arranquei a carta da gaveta,agarrei um porta retrato e fui correndo, desnorteado para a praia.No caminho,via a face dela em todos.Xingava todos.Chorava e implorava piedade de todos.Ela debochava.Elas me ignoravam.Todas elas mostravam-se insignificantes.Ela.Elas.Todas.Todos eram devaneios.A tarde estava chuvosa e como era domingo, a rua estava vazia.Ninguém me conteve.
Hoje vejo que a vida é uma roda viva e nossos piores tormentos vêm da busca em tornar concreto aquilo que nem se quer pode existir.Quando li a carta destinada àquele homem, foi como transar com uma pessoa portadora do vírus da AIDS , sem camisinha por opção.A AIDS mantêm-se ,viva, e fazendo mais vítimas.Assim como ela.E nós morremos,literalmente.As pontadas dessa estúpida paixão cegaram meu orgulho e o meu amor-próprio e não houve nenhum tarô em braile capaz de conter o desastre do meu futuro.
Sempre fui de me encantar com imagens,me apaixonar por sorrisos e amar apenas por devoção às novelas.Com ela,porém,tudo foi diferente.Fui arquiteto dos 25 aos 27 anos, poeta desde menino e homem desde quando a conheci.Algumas vezes, acreditara que viver de forma morna e cotidiana era o padrão de felicidade,mas minhas peripécias íntimas me fizeram crer que viver uma vida sem oscilações e ousadias é,apenas, esperar o tempo passar.Tenho certo de que não tive um final feliz,mas isso não me magoa tanto quanto pensar que desisti de mim.
Nos final dos meus 25 anos resolvi sair de casa.Não queria ir para muito longe, tinha construído uma estrutura social e profissional em Ipanema e não seria fácil reconstruí-la.Queria uma reviravolta em minha vida,mas me contive em mudar apenas de quadra.Logo quando terminei a mudança, fui avisar aos meus amigos da praia que estava morando sozinho, já que tudo foi tão abrupto e não os via há um certo tempo.No caminho encontrei um homem desesperado,correndo,sem rumo, em direção ao mar.Embriagado de álcool,pensamentos obsessivos e rancor.Mal podia imaginar que aquele encontro seria um divisor de águas dentro de mim.
Consegui contê-lo. Seu pranto fazia das suas palavras incapazes de me explicar o motivo da sua tentativa de suicídio, mas uma foto e uma carta de mulher em sua mão esquerda davam mais sentido a história. Ele pegou em minha mão e encaminhou-me a casa dela que,por conchavo do destino com o acaso, era no mesmo prédio que o meu.Era a esperança daquele homem que eu o salvasse a alma da mesma forma que o salvei o corpo,mas não foi assim.
Passei o trajeto todo lendo aquela carta.Nunca havia lido nada nem semelhante.Era uma mulher tão peculiar e ao mesmo tempo tão tipicamente inteligente e sensível.Era de um eufemismo único e um jogo de cintura magnífico para lidar com a delicadeza da situação.Era a primeira vez que lia aquelas sentimentalidades.Era a primeira vez que apaixonava-me por palavras.Era a primeira vez que amava daquela forma.Platonicamente.Por dez minutos.
Quando a vi nada mudou.Linda.Encantadora.Mesmo que não fosse,já cheguei convencido que seria e,dificilmente aquela impressão iria mudar.Sentia nos olhos dela uma certa reciprocidade àquele estado de êxtase.Ficamos os três em silêncio.O homem nos condenava com sua atitude apática e com suas lágrimas que irrigavam sua fisionomia seca e pálida.Suas lágrimas acentuavam-se, paulatinamente, e a manifestação de sua loucura foi se agravando ao ponto de correr desesperado pela porta, sem dar explicações.Não tive forças para contê-lo.Não quis.
Apresentamos-nos. Encantamo-mos pelas afinidades. Namoramos. Em pouco tempo minhas malas subiram um andar.Estava em um estado de graça jamais experimentado por mim.Jamais ouvira alguém contar-me algo semelhante.Orgulhava-me de mim e sentia que,enfim,penetrava em uma existência superiormente interessante.Era um intimo contato com as mais variadas e excitantes sensações.
Estava tão feliz que tornei-me obcecado pelo desejo de permanência naquele estado.Meu medo de perdê-la condecorava meu ciúme,cada vez mais freqüente,cada vez mais egoísta,cada vez mais doentio.Até o dia em que ela me deixou, restando apenas uma carta em cima da cama para escutar meus lamentos.
Olhei-me no espelho,já não tinha mais graça.Ainda que eu quisesse voltar a minha vida anterior,já não poderia mais.Aqueles pensamentos me corroíam e a saudade mostrou sua face mais absurda.Fui atrás dela inúmeras vezes.Mal conseguia ver seu rosto.Premeditava o local que estaria para nos encontrarmos, quis modelar e construir o acaso,mas fui incompetente.Até que liguei e ela não atendeu.Soube pelo porteiro que estava com outro,saía toda noite,não tinha mais vícios nem atrasos.Percebi que tinha construído uma vida paralela a mim e estava feliz.Morri como homem e nasci como telespectador.
Arranquei a carta da gaveta,agarrei um porta retrato e fui correndo, desnorteado para a praia.No caminho,via a face dela em todos.Xingava todos.Chorava e implorava piedade de todos.Ela debochava.Elas me ignoravam.Todas elas mostravam-se insignificantes.Ela.Elas.Todas.Todos eram devaneios.A tarde estava chuvosa e como era domingo, a rua estava vazia.Ninguém me conteve.
Hoje vejo que a vida é uma roda viva e nossos piores tormentos vêm da busca em tornar concreto aquilo que nem se quer pode existir.Quando li a carta destinada àquele homem, foi como transar com uma pessoa portadora do vírus da AIDS , sem camisinha por opção.A AIDS mantêm-se ,viva, e fazendo mais vítimas.Assim como ela.E nós morremos,literalmente.As pontadas dessa estúpida paixão cegaram meu orgulho e o meu amor-próprio e não houve nenhum tarô em braile capaz de conter o desastre do meu futuro.
18 comentários:
Porra, Luciana!
Assumo que fiquei com preguiça de ler tudo, mas adorei tudo que li.
Ótimo!
Bjosss!
LU, adorei!
Jah to com saudades denovo! Bjao
Aff... parei de te elogiar ja, ta ficando chato e repetitivo...
mas aqui é pra dar minha opiniao ne?
maravilhoso, como sempre, alias, ainda esta tendo a audacia de melhorar!
beijos e parabens de seu fã confesso...haha
Mto interessante de verdade...
eu me indentifico mto...
acho q eh pela melancolia tb, naum sei....mas deve ser...
me intreteve demais o texto...
sem duvidas, o dia q vc escrever um livro, eu comprarei...
=]
De verdade...
Bjaum, e continue sempre escrevendo coisas inteligentes, e com sentimento...
=**
Oiii, Luuu!!!!!
Minha amiga futura escritora de sucesso, mais uma vez li, apreciei e aprendi cada vez mais nos seus textos. Cada dia você capricha mais, viu? Continue sendo sempre assim, que esse seu dom possa ser aproveitado da melhor maneira possível.
Fique bem.
Beijooooosss
Eu fiquei o texto todo esperando a hora q o cara ia pegar AIDS de alguém.. hahahahahahaha coração juvenil né.. =)
mto bom, senhorita, mto bom... espero q suas inspirações nunca deixem de existir pra vc continuar a escrever textos q são inspirações pra mim... mais uma vez, mto bom... e qto a vc falar q eu abandono, num vem de graça não q a culpa não é minha.. hahaha vamos marcar alguma coisa tá?
bjoooooooooo
Impressionante! Magnífico! Viciante por assim dizer.A cada palavra o leitor delicia-se com o jogo de palavras fascinante,com a trama em si,com o lado poético explicito,um manjar dos deuses degustado a colheradas de encher a alma.Eu,sinceramente,estou impressionado.VOCÊ é uma roda viva,uma caixa de surpresas,sempre inovando! O texto está fantástico lu .Com um poucos mais de descrições,alguns personagens adicionais e algumas histórias paralelas (o q você faira com maestria) estaria pronto um livro digno da lista de mais vendidos da revista Veja(vale ressaltar meu pressentimento de q vc será cronista dessa revista ne?! ). PARABÉNS!
Você me encanta!
Bju enorme!!!
mais um texto brilhante de luciana!!!! hehe.... nao vo mentir... nao li td, haha.... mas oq li me amarrei.... papo serio!!!
ja disse isso aqui e vo repitir.... ate q vc escreve bem!!
é isso.... nao sou bom com palavras como vc!! hehe
bjuu
Bela ligação entre o título e o desfecho!!!
Esse texto ficou muito forte,pelo paralelismo feito entre a doença e as conseqüências a que estão sujeitas as pessoas que vivem uma grande paixão nas mãos de alguém que ainda não aprendeu a conduzir este sentimento...
ÓTIMO...simplesmente!Como todos os outros!
Para ser sincero não gosto de textos melancólicos...o que não exclui a construção bem feita do seu texto...
Se tiver,posteriormente,um texto que tenha um teor constraposto ao melancólico estarei aqui novamente,pq,por vc ser a autora,eu não tenho dúvidas que a identificação será mais do que certa!!!
Bjoooo
Impressionante, muito bom...não sei, não tenho como fazer outra coisa senão dizer que ficou excelente...muito criativo e muito bem conduzido...ah, e eu adoro "As Vitrines", hehe...bjos!
Mais uma vez Maline!!!
O texto do HIV dispensa comentários, uma leitura intrigante, é daquele tipo de texto que você quer ler, ler e ler mais, porém torce pra nunca terminar, torce pra ser uma história sem fim. Se você for olhar pro aspecto material, visível, palpável, dirá que o texto tem fim, mas se você for além disso e levá-lo para realidade, pro cotidiano, verá que ele deixa no seu decorrer de palavras inúmeras lições, experiências, dicas, entre outros.
É muito engraçado ver como uma pessoa pode juntar letras (sejam elas consoantes ou vogais), pontos de exclamação, pontos de interrogação, virgulas, dois pontos, entre outros, e com isso levar você a algo novo, diria que Luciana faz isso e de forma espetacular por sinal.
Sempre ao me encontrar com o ponto final de uma escrita da Luciana, vejo que existe algo contraditório (no momento não me lembro se é paradoxo, antítese, acho que tem alguma coisa relacionada a um desses-Já estou um tempinho sem estudar,rsrsr), pois aquele ponto respresenta o fim do texto, mas a cada ponto final de um texto vejo cada vez mais que ele representa o começo de uma nova Grande Escritora.
Bjo Lulú!!!
Fazia tempo que eu não lia um texto tão bem delineado como esse...
Não sei... É concreto! Ao mesmo tempo que objetivo, é subjetivo... Você sabe do que quer falar, mas instiga o leitor a descobrir mais sobre o assunto...
Só algo me entristeceu...
17 de janeiro? Já faz um bom tempo...
Ansiedade eu tenho!
Belo trabalho
Oi, Luciana! Seu pai está certo, você deveria escrever mais. Conhecerei o blog aos poucos, mas esse foi um bom começo.
Dou força também para a idéia de estudar na Darcy Ribeiro. A qualidade é excelente. Boa sorte nos escritos.
Abs, Eric.
Luciana, esse texto me lembrou aquela cena do filme do Cazuza em que ele descobre ser portador do vírus do HIV. Houve inspiração?
LU! Demorou mas eu vim.. e pretendo vir mais vezes! Adorei tudo que li.. sou sua fãzoca, alma gemea! Beijos,beijos,beijos..
Clarissa
você abusa do direito de ser linda!
Beatriz (Chico Buaque)
Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida
Ass: :x
volta a escrever, volta?
não sei se você sabe, mas eu sempre venho aqui para ler as suas considerações sobre o amor. você escreve tão bem, tão bonito, e o que você escreve diz.
eu quero ler até que faça parte de mim essas coisas que você disse sobre o teísmo e o impalpável. é, luciana maline, você é demais...
você é um presente! não sei quem foi que me deu, mas seja quem for: OBRIGADA!
eu te amo, luluzinha, e não sei mais viver sem você não. sem chance. =P
beijocas
e os abraços de sempre. ;]
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